A Influência dos Neuro Transmissores nas respostas mentais.

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Um dos tantos modelos da estrutura e evolução cerebral, chamado cérebro trino (que contêm três aspectos diferentes), propõe que devemos examinar o mundo em geral e a nós mesmos, através de três mentalidades diferentes, duas das quais não intervém na faculdade da fala.
MacLean, sustenta que o cérebro humano equivale a três computadores biológicos interconectados, cada um com sua peculiar e específica inteligência, subjetividade e seu próprio senso do tempo e espaço, bem como, suas próprias funções de memória, motrocidade e outras funções menos especificas. Cada parte corresponde a uma etapa da evolutividade cerebral, de transcendental importância.
As três distinguem-se tanto pela sua configuração neuro-anatômica, como pela sua funcionalidade e por conterem proporções muito díspares de: serotonina, dopamina, noradrenalina, acetilcolina, ácido aminobutírico (*gaba), etc.

*A formação mais antiga, o cérebro posterior, é integrado em grande parte pelo bulbo, protuberância, pedúnculos cerebrais e cerebelo. Compartilham conosco, os humanos, os mamíferos e os répteis. Se desenvolveu provavelmente há várias centenas de milhões de anos, denominado complexo reptiliano ou “Complexo-R”, desempenha um importante papel na conduta agressiva, nos atos rituais e de territorialidade, assim como no estabelecimento das hierarquias sociais.

Estes rasgos configuram em boa medida o comportamento violento, burocrático e político do homem atual.
Surpreende comprovar como grande parte das nossas ações confrontam-se muitas vezes com o que dizemos ou pensamos. Isto poderia se explicar em função das normas de conduta que orientam o “Complexo-R” e a inespecífica substância reticular.
Circundando-o se encontra o sistema límbico ou lobo de broca, cérebro antigo ou rinencéfalo ou cérebro olfativo, constituído: pelo anel que linda o cérebro propriamente dito, sistema límbico de MacLean, que constitui um grande sistema sub cortical e central, o centroencéfalo. Este córtex límbico gera os estereótipos similares ao dos tigres, gatos, pumas, (felinos em geral). Exerce a regulação da vida emocional junto com o hipotálamo, estreitamente conectado com a região da hipófise, diencefálica: centro vegetativo do sono, a sede, o humor, a temperatura, a diurese, a fome, etc., como também a amígdala cerebral, o tálamo, a glândula pituitária e o hipocampo.

Os mamíferos restantes têm um sistema límbico; os répteis o possuem ainda num grau muito menos evoluído. Este sistema seguramente se originou há cerca de 150 milhões de anos.
Por último, o que resta do cérebro, o neocórtex, é sem dúvida a incorporação evolutiva mais nova.
O homem, o mesmo que os mamíferos superiores e os primatas, possuem um neocórtex proporcionalmente maior e mais perfeito, junto com os golfinhos e os grandes cetáceos, como as baleias.
Provavelmente se formou há milhões de anos. A aparição do homo sapiens (há 300 mil anos) mostra um desenvolvimento ainda mais extraordinário.

Paul Broca, neurologista e antropologista francês (+1880), informou que a 3º circunvolução do lobo frontal esquerdo do córtex/cerebral, que na sua honra denominamos área de Broca, controla a emissão articulada da linguagem. Pareceria que no homo habilis, há 2 milhões de anos se desenvolveu esta área, e que o fez junto com a aquisição do trabalho, com o uso simultâneo de suas rudes ferramentas. A aprendizagem parece ser uma função exclusiva do neocórtex.
Até agora não consta nenhum indício que conecte o homo erectus (1.8 milhões de anos) com o homo sapiens (fósseis encontrados de apenas 300 mil anos). Será possível que o elo perdido que os conecta não se encontra porque não existe, e portanto, a origem do homem quiçá não tenha conexão alguma com o chimpanzé?
O intelecto ou a razão é função do neocórtex, sendo o rasgo mais distintivo a capacidade de raciocnio e a formulação de abstrações como a matemática, a música, as artes.
Distinguem-se no neocórtex os lobos: frontal, parietal, temporário e occipital. Lobo frontal: relacionado com a reflexão e regulação da ação, antecipação motora e cognitiva e antecipação do futuro, é a concentração da ânsia e o pesadume (preço que pagamos pela previsão do futuro), intervém também, no nexo entre visão e postura erecta e bípede. Nossa postura bípede permite as nossas mãos o manejo de diferentes e variados elementos com elas. Não seria um exagero dizer que talvez a civilização seja o produto da atividade social dos lobos frontais.
O córtex prefrontal (CPF) é a região frontal anterior ao córtex/motor primário e pré-motor, é uma estrutura que aumentou de tamanho com o desenvolvimento filogenético, heterogênea desde o ponto de vista anatômico e funcional. O córtex prefrontal é vital para as “funções executivas” as quais são produto de operações coordenadas por diversos processos cognitivos, e para cumprir um objetivo particular de maneira flexível. O mecanismo ou sistema responsável para a ação coordenada se denomina controle executivo. Intervindo ali: o atendimento seletivo, a tomada de decisões, planeamento, inibição da resposta, desenvolvimento de estratégias, e uma memória de trabalho que permite manter em forma temporária a informação e manipulá-la, durante diversas demandas cognitivas. A (CPF) possui um papel vital na organização efetiva da conduta.
O dano da área prefrontal produz degradação do controle executivo, e como consequência, deficit no juízo, na tomada de decisões e no planeamento. A “mudança de personalidade” é uma das descrições mais comuns do paciente com dano frontal. Também se observam falhas na capacidade da abstracão, a dificuldade para inter-acionar efetivamente no meio social e falha no controle emocional. Os pacientes que apresentam esta deficiência passam rapidamente da depressão à euforia. Outros indivduos, especialmente aqueles com lesão orbitofrontal direita, apresentam-se maníacos, desinibidos, impulsivos e irresponsáveis.

Na última década os estudos de neuroimagens funcionais (RMF) permitiram um avanço qualitativo na tentativa por desentranhar as diferentes áreas prefrontais. (Facundo Manes e Col. 2002).
Lobos parietais: a residência da percepção espacial e a linguagem simbólica, estabelecem o intercâmbio entre o cérebro com o resto do corpo e ler. Uma lesão neste lobo engendra alexia. Permitem orientar-nos no espaço tridimensional é também sua função.
Lobos temporais: têm uma tarefa perceptual muito variada, conectam os estímulos auditivos com os visuais. Lesões neste lobo podem se manifestar em forma de afasia (incapacidade para captar a palavra falada). Radica também no lobo temporário a regulação da agressão e da violência, (recordemos: a epilepsia do lobo temporal).
Lobos occipitais: estão relacionados com a vista, que é o sentido dominante entre o homem e os outros primatas.
Tanto a memória efêmera ou de fixação (hipocampo e lobos frontais) quanto a memória retentiva ou duradoura (neocórtex), em geral, localizam-se em diferentes porções de todo o cérebro.
Durante seu desenvolvimento embriológico o homem tende a repetir ou a recapitular (Ernest Haeckel: A lei da recapitulação, século XVIII) a que assinala a sequência evolutiva de seus antecessores. O feto humano, durante sua vida intra-uterina, passa por diferentes fases evolutivas semelhantes aos peixes, os répteis e mamíferos não primatas, antes de desenvolver rasgos próprios que credenciarão sua condição de humano.
O desenvolvimento científico e tecnológico se encarregou de nos liberar daquele comando biológico interior de prosseguir mudando (modificações genéticas naturais) para adaptar-nos ao meio. Essa capacidade que tinha nossa espécie, pareceria ter ficado hoje virtualmente esgotada.

Até pouco tempo se creia que a regeneração de neurônios (neurogênese) no cérebro, terminava ao finalizar o desenvolvimento do mesmo, pensava-se que o número de neurônios do cérebro adulto já não se modificava e que os que morriam não eram substituídos. Durante a última década, científicos descobriram que em duas regiões do cérebro dos mamíferos adultos: na zona subventricular e na capa granular do giro dentado do hipocampo, geram-se novos neurônios. Pode-se demonstrar que estas regiões do cérebro contém células stem ou progenitoras, as que produzem constantemente novos neurônios, ninguém tinha demonstrado que estas eram realmente funcionais (demonstrado através de registros electro neuro fisiológicos). Doutor Schinder A.

Chegamos a algum limite? Por alguma força do destino? Ou talvez alguma visita inesperada que se nos aparentou faz uns centos de milhares de anos terminou com aquilo de seguir mudando? Ou será que a transmissão genética do conhecimento inteligente ancestral é só o primordial? Quiçá por um ato divino?… Ou resulta do projeto de nossa própria evolução?

Muitas vezes falamos de assassinos que matam a sangue frio num escuro beco, ou num quiosque a plena luz do dia, ou desde a escrivaninha dum despacho mandam a matar “por encomenda”, então:
Se a conduta agressiva está essencialmente regulada pelo complexo réptil, isto significa que não há esperança para um futuro humano sem violência?

O neocórtex representa ao redor do *85%* do total do cérebro, o que reflete sua importância com respeito ao cérebro posterior, tanto a neuro-psicofisiologia, como a história política, e a própria introspecão do homem: oferecem provas suficientes de que o ser humano é perfeitamente capaz de resistir a urgência de ceder aos impulsos emanados do cérebro réptil. É impensável supor que desde nosso cérebro réptil houvéssemos podido conceber a declaração dos direitos humanos, não é?
Uma das missões deste neocórtex é conter ou eliminar alguns impulsos do complexo-R. Mas, o que acontece então com aqueles meninos de baixo interesse e hiperativos e que cometem atos de violência contra parceiros escolares ou suas pequenas mascotes, e que depois de adultos são altamente agressivos e delituosos?
É consequência dum neocórtex geneticamente vulnerável, ou duma substância reticular (cérebro isolado), que produz uma hiperatividade ascendente de impulsos indiscriminados provenientes do Complexo-R que ultrapassa o controle e/ou filtro do neocórtex?
A substância reticular é uma neuro-pilha, centro do tronco cerebral, dínamo desde o bulbo até o pedúnculo e sistema límbico (núcleos talâmico e hipotalâmicos), está bastante limitada com a substância cinza central da medula, é sumamente difusa e também chega ao neocórtex. É conhecida como cérebro isolado porque constitui um sistema de ativação ascendente.
A substância reticular se caracteriza por estar constituída pelo entrecruzamento de fibras nervosas em diferentes direções, nela existem neurônios que formam agrupações polisinápticas que têm valor similar a núcleos funcionais, sendo sobretudo, centros de associação que coordenam numerosos reflexos onde intervém os pares cranianos e as principais funcionalidades orgânicas.
Há fibras aferentes: sensoriais, neocorticais (conexões cortico reticulares), do rinencéfalo, e do cerebelo.
Fibras eferentes que se projetam sobre: o córtex cerebral passando através do tálamo, ou fora deste, e fibras reticuloespinais através de núcleos sensoriais.

As funções da substância reticular, emprazada em todos os espaços deixados livres pelas formações específicas desta região são:

a: Regulação do nível de consciência. Em cobaias.
(Na estimulação com eletrodos: acordar)
( sua destruição cirúrgica: sono)

b: controle da motilidade somática e funções vegetativas.

c: controle do comportamento global do indivíduo.

d: modifica a atividade de centros superiores, os que ao detectar efeitos exteriores estimulantes de alerta, podem desencadear impulsos agressivos irrefreáveis provenientes do Complexo-R.

“Podes liberar muitas coisas de teus atos, a que corram sua própria sorte, mas não aquelas que concernem a tua própria natureza…”
G. K. Chesterton

Demonstrou-se: aumento de noradrenalina no cérebro de animais, aos que se induziu agressão por isolamento prolongado ou outros fatores de estresse. Uns dos fármacos que reduzem a atividade noradrenéergica, como a clonidina e o propanolol diminuem a agressão.
O aumento da dopamina facilita a agressividade afetiva, por exemplo, os agonistas da dopamina, como da apomorfina aumentam o comportamento agressivo. A administração experimental de metil paratirosina (inibidor da síntese de dopamina), diminui a agressividade.
As baixas concentrações de serotonina (5-HT) no cérebro demonstrou comportamentos agressivos e/ou auto-agressividade. Estudos em delinquentes violentos e impulsivos demonstraram baixa de serotonina cerebral, refletida por níveis baixos em L.C.R. de 5-HIAA, (metabolito de serotonina). Diferentes evidências assinalam a participação de (5-HT) diminuída em condutas agressivas e violação.
Também se destaca a importância de (gaba) na regulação do comportamento agressivo.
Há evidentemente uma importante relação entre comportamento agressivo, suicida e impulsivo, e a disfunção do sistema serotoninérgico.
O DSM IV desterrou de sua última edição, a palavra orgânico, estabelecendo que todo transtorno da psique implica também uma alteração biológica.
O cérebro é o órgão da mente. A mente não é mais que o cérebro. A citoarquitetura do córtex cerebral, está condicionada por estímulos do meio social, sendo que a socialização, conforma os atributos humanos essenciais de nossa espécie, por meio da linguagem.
A natureza e a cria se encontram em reciprocidade e não em oposição. Todos os meninos herdam, junto com os genes, a seus pais e ao lugar que deverão habitar.
O desenvolvimento de cada humano se faz num meio geográfico circundante, ecológico e social, como seus genes, é especifico da espécie e para poder denominá-lo, cunhou-se o término de nicho ontogênico; legado que estrutura ao desenvolvimento, um elo crucial entre pais e filhos, uma embalagem biográfica de todas as possibilidades da vida, as que ao desordenar-se ou alterar-se darão lugar, provavelmente, a transtornos mentais.

O psíquico (segundo Jacob CHR.), é em seu essência, um processo dinâmico, adquirido pela experiência individual e o resultado da colaboração de diferentes complexos funcionais corticais hereditariamente preformados e carregados neuro-energeticamente, os que estão, de alguma maneira, certamente localizados.
O psíquico é não localizável, é transcortical, mas seus últimos elementos criadores representam o fisiológico, e em isto sim existem hoje múltiplas localizações possíveis.
Se o nosso neocortex se foi desenvolvendo, enquanto as suas qualidades humanas, na medida que o homem foi aprendendo:
Então educar ao homem para sua liberdade, é a maior esperança de nossa civilização. Ele aprendeu a manejar seus impulsos internos, pelo que é cada vez mais livre de seu aparente inexorável desígnio.
Entre os seres humanos, nenhum grupo racial ou étnico em particular se distinguiu por ser inato ou frequentemente mais violento que os outros.
Se mais da metade dos crimes violentos são cometidos quando os agressores se encontram sob a influência de drogas e/ou álcool, então os planos de prevenção no abuso indevido de substâncias, devem começar com a alfabetização.

Em todo indivíduo existe uma força de natureza antropológica, que se expressa no interior da dimensão mental: *a consciência, a que incita ao sujeito a apropriar-se dos atos que ele mesmo produz.
Este movimento de apropriação do acto sempre aponta a dois objetivos: 1 – apropriação do controle do processo do ato;
2- apropriação dos efeitos do ato;
Em síntese: não dizemos por acaso? este é meu ato, quase como se disséssemos, este meu corpo, meu pensamento, meu ser.
Todo ato humano é também um ato social, um ato do neocortex.
Enquanto nossos genes, como já vimos, nos dão o arma da defesa e o ataque, o meio externo, as vezes, é quem aperta o gatilho para o ato agressivo.
A pulsão hostil, tendência hostil, remete a que impulsividade: é um fragmento de atividade emocional irreflexiva. A “pulsão agressiva” designa a porção de cada um de nós, que dirigida para o interior (autoagressividade) ou ao exterior (heteroagressão), concreta-se com a ajuda especial da musculatura, a ira impulsiona ao ataque, então é onde o orgânico-cerebral, se compromete, resultando uma resposta cérebro-reflete. Ira: emoção que faz perder o domínio sobre si mesmo (cólera, fúria, furor).
A violência é especificamente humana, é proceder com força extrema, força derramada, fora dos limites, para adiantar-se a outros e conseguir fins de sobrevivência, ou de despojamento, é exercer o poder absoluto por meios coercitivos ou extorsivos. Está relacionada com a ausência de introspecão e/ou deficiências nos mecanismos de auto-controle: mente-cérebro.